11 de abril de 2009

O Negro na Literatura Brasileira. Raymond S Sayers.

Raymond S Sayers.

O Negro na Literatura Brasileira.

O Cruzeiro

1958

Livros Raros

coda330409, ok. encadernado em capa dura, manteve-se a capa brochura original, bom estado de conservação, 458p, tradução e notas de António Houaiss. um clássico, não perca, saiba mais.

A escravidão tem sido uma temática abordada ao longo dos séculos. No âmbito da Literatura, destacam-se teóricos como Sayers e Brookshaw. Vários são os fatores que estimularam os dois últimos autores a enfocar a escravidão, entretanto, enfatizaremos somente três desses fatores: o crescimento da população negra na sociedade; de que maneira os negros influenciaram na Literatura Brasileira e como eles foram retratados nas obras literárias.

Sayers aborda o negro em seus diferentes tipos.
O “Escravo Melancólico”, verificado no poema A Escrava (1852), de Cruz Júnior, no qual retrata uma escrava com saudades de sua terra natal;

o “Escravo Nobre”, observado no poema Caramuru (1913), de Frei José de Santa Rita Durão, exaltando o papel patriótico do negro Henrique Dias na Batalha dos Guararapes;

o “Escravo Sofredor”, encontrado no volume de poesias líricas Os Escravos, de Castro Alves, que mostra uma série de escravos sofredores, é o tipo de escravo que se encontra no conto Pai Contra Mãe de Machado de Assis.

Sayers, no decorrer de seu livro, avalia, de acordo com cada momento histórico-literário, as diversas perspectivas sobre a escravidão presentes nas obras que pertencem a uma determinada época literária.

Na Literatura Colonial, Sayers apresenta uma contradição em Marques Pereira, visto que este, mesmo apresentando a realidade dos escravos detalhadamente, condena o único divertimento destes.

A respeito de Marques Pereira, Sayers afirma que ele não descreve o escravo romanticamente, ou seja, com traços sentimentalistas, resquícios da influência européia, significando uma quebra com o tratamento do negro na Literatura Brasileira.

Pode-se depreender a partir da leitura do livro de Sayers que este prossegue apontando outras contradições referentes à abordagem da escravidão em diversos autores, como Gonçalves Dias e Antônio Vieira.

Mesmo sendo influenciada pela visão antiescravista predominante na Europa na segunda metade do século XVIII, a Literatura Brasileira não se preocupou em mostrar a realidade social vigente na época, pois:

os escritores não se achavam desejosos de se envolverem em tais problemas, ressaltando que, já que se tratavam de imitadores, necessitavam de um precedente poderoso, como por exemplo, Victor Hugo, antes de enveredarem pelo ataque à escravidão ou a outro problema social qualquer.

Essa assertiva, portanto, confirma a teoria de Sayers quando ele afirma que o negro é uma figura apagada no século em questão.

É necessário lembrar, todavia, conforme Brookshaw, que a primeira geração do movimento romântico no Brasil está diretamente ligado à procura por uma verdadeira identidade brasileira e, portanto, não era de interesse dos grandes literários retratar o negro com qualidades superiores, pois a estrutura étnica poderia ser posta em dúvida.

Mesmo com a abolição dos escravos na França e na Inglaterra em meados da primeira metade do século XIX, a prosa brasileira fazia referências superficiais sobre a escravidão no final do século XVIII, podendo-se comprovar este fato em Memórias para a História da Capitania de São Vicente. Somente após a abolição do tráfico negreiro na Inglaterra em 1807, é que, para Sayers, a Literatura empenha-se na causa do escravo, sobressaindo-se o papel de Hipólito da Costa (1774-1823), que em Março de 1811 afirma que a escravidão é contrária às leis da natureza.

Entretanto, no período de 1825-1850, Sayers, destaca que a Literatura antiescravista foi mais contundente em sua denúncia, tanto que surgiram jornais especializados nos direitos dos negros.


Nessa época, o sentimento antiescravista era tão forte na sociedade brasileira, que na década de 1850 o realismo retratou o escravo profundamente, rompendo com a visão idealista do romantismo.

Para Sayers, sobressai-se nesse ínterim o empenho e o desempenho de Joaquim Nabuco e Rui Barbosa na contestação da escravidão.

Deve-se ressaltar a influência de Victor Hugo (1862) na terceira geração romântica conhecida como “Geração Condoreira”, visto que ele procurava mostrar através de sua poesia as questões políticas de sua época, aproximando-se das idéias liberais e abolicionistas que permeavam o Brasil no período de 1870-1890.


Segundo Sayers, os poetas condoreiros, melhor representados por Castro Alves, contestam e atacam efetivamente a escravidão. Sayers relata que: “Castro Alves é a voz do movimento abolicionista”, visto que ele expõe os malefícios da escravidão. Sayers, entretanto, reconhece que Castro Alves conserva a sua superioridade perante os negros, devido a sua posição de filho de senhor de escravos.

Tanto que Brookshaw, em seu livro, também apóia essa teoria de Sayers (1958), pois acredita que Castro Alves apresenta o negro no ponto de vista de sua classe social.


Brookshaw compartilha de algumas outras idéias de Sayers, pois ambos abordam os mesmos tipos de escravos e aproximam-se também das perspectivas sobre a escravidão na década de 1850, isto é, concordam que nessa época houve um maior enfoque da escravidão na Literatura Brasileira.

Entretanto, mesmo que ambos tenham comentado sobre a presença do “Escravo Fiel” na Literatura, Brookshaw assevera que o fato desse tipo de escravo ser retratado nas obras literárias, não significa que há uma abordagem contra a escravidão, proporcionando, assim, uma maior profundidade em sua análise. Porém, um ponto de distanciamento entre os autores é observado quando Brookshaw afirma que antes da década de 1850 não existia a presença do negro na Literatura Brasileira, o que contraria a visão de Sayers, visto que este menciona a figura do negro na obra Diálogo das Grandezas do Brasil (1618), de Gabriel Soares, em que o valor dele é reconhecido na economia brasileira.


É necessário lembrar, todavia, que a maioria dos estudos feitos sobre este assunto são de escritores estrangeiros como Sayers, Brookshaw, Gregory Rabassa, David Harbley o que dificulta tanto o acesso a esses estudos por não estarem traduzidos como demonstra certo desinteresse por parte dos grandes literários brasileiros em analisar a temática retratada no presente artigo, visto que, ao reunir materiais para fundamentar esta pesquisa, sendo ainda estes em pequena quantidade, notou-se que grande parte deles são traduzidos para o português, concluindo-se, então, que são poucas as obras disponíveis de escritores essencialmente brasileiros. Deparando-se com tal situação, um questionamento é levantado: como escritores de um país que, alicerçado na escravidão desde os primórdios de sua civilização, não analisam ou não procuram analisar a repercussão desta na Literatura Brasileira, sendo que escritores estrangeiros atentaram para tal fato?


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